segunda-feira, outubro 23, 2006

GUERRA DAS ESTRELAS: A AMEAÇA FANTASMA

Começando pela peça do DN onde se lê "no espaço de uma semana, o PCP assumiu três atitudes públicas em defesa da Coreia do Norte - num voto parlamentar, num comunicado do Comité Central e no jornal oficial comunista" - há que referir que o mesmo não explica de que forma e em que medida é que o PCP "defendeu a Coreia do Norte". Apenas tenta fazer deste tema uma chalaça à volta da qual os membros do partido se terão dividido, devido a diferentes opiniões, dizendo: "uma posição de que se demarcam militantes e ex-filiados no partido que continuam a reclamar-se do ideário marxista-leninista". Uma tristeza esta falta de ética profissional, em que ao invés de dar uma notícia, faz fofocas ao estilo das novelas côr-de-rosa que se escrevem em Portugal, mas que normalmente saem ao sábado no formato de revista. Pensava que o papel dos jornalistas era informar e não contar estórias!

No comunicado o PCP diz o seguinte: “O Comité Central sublinhou a necessidade de continuar a dar uma grande atenção ao acompanhamento da situação internacional e promover iniciativas de esclarecimento e luta contra a política agressiva dos EUA e seus aliados e de solidariedade com os povos vítimas das agressões, ingerências e ameaças do imperialismo. O Comité Central chama a atenção para a situação no Médio Oriente e Ásia Central que continua particularmente grave e encerra grandes perigos de envolver toda a região numa guerra de incalculáveis proporções. Os EUA e as grandes potências da NATO respondem à forte resistência dos povos do Afeganistão e do Iraque com o reforço das forças militares de ocupação e a intensificação da sua acção repressiva e destruidora. No Líbano, onde o invasor sionista sofreu um enorme revés e, a coberto de uma resolução da ONU inaceitável, estão a concentrar-se forças poderosas, que põem em causa a soberania deste país e são uma séria ameaça para países como a Síria e o Irão. Prossegue a criminosa e quotidiana agressão contra o povo palestiniano perante o silêncio cúmplice da União Europeia e da chamada «comunidade internacional». A luta para por termo à agressão imperialista no Médio Oriente e por uma paz justa e duradoura na região continua na ordem do dia e passa pela retirada das tropas imperialistas invasoras, pela condenação da política de terrorismo de Estado de Israel e pela aplicação urgente das resoluções da ONU que exigem a retirada de Israel dos territórios ocupados em 1967 e o reconhecimento de um Estado palestiniano independente com capital em Jerusalém. Perante a escalada imperialista no Médio Oriente, na Península da Coreia e em outros pontos do mundo, nomeadamente em África, adquire particular importância o desenvolvimento da luta por uma política externa independente, contra a utilização do território nacional e a participação de forças armadas portuguesas em operações de agressão e de guerra contra outros povos.
(...)
O Comité Central alerta uma vez mais para os ataques a liberdades, direitos e garantias fundamentais que acompanham a ofensiva de guerra do imperialismo em que, a pretexto da chamada «guerra ao terrorismo», se pretendem branquear, banalizar e mesmo legalizar práticas repressivas e de natureza fascista, como no caso dos sequestros, prisões secretas, tortura, assassinato político. Nesse sentido expressa a mais profunda indignação pela decisão do Congresso dos EUA que expressamente «legaliza» o recurso a torturas como as da «estátua», do sono e outras, praticadas em Portugal pela PIDE. O PCP exige do Governo português a condenação inequívoca de tão grave decisão e o cabal esclarecimento da utilização de território português para voos e operações criminosas da CIA.

O Comité Central valoriza e saúda os processos de resistência e de luta que prosseguem por todo o mundo, expressando em particular a sua solidariedade: ao povo de Timor-Leste e à Fretilin, que enfrentam a continuada conspiração do imperialismo e da reacção interna; ao povo da Guiné-Bissau e ao PAIGC que acabam de celebrar o 50.º aniversário da fundação do partido de Amílcar Cabral; ao povo do Brasil e à coligação de esquerda que apoia a reeleição do Presidente Lula contra o regresso da direita reaccionária; aos comunistas e ao povo coerano pela reunificação pacífica da sua pátria e contra o bloqueio económico e as ameaças de agressão imperialista à RPDC; ao povo e aos comunistas cubanos empenhados na defesa da sua revolução e na luta pela libertação dos cinco patriotas encarcerados nos EUA.” (na integra)

No jornal o Avante! podemos ler: “Coreia do Norte rejeita resolução do Conselho de Segurança: A Coreia do Norte repudia a resolução do Conselho de Segurança da ONU que impõe uma série de sanções àquele país pela realização de um teste nuclear". Nesta peça acedemos à opinião emitida por Choe Su Hon, presidente da delegação da RPDC, na 61.ª sessão da Assembleia Geral da ONU, em 26 de Setembro de 2006, em Nova Iorque, onde podemos ler entre outras: “os EUA, apesar da referida Declaração conjunta, impuseram sanções financeiras à RPDC, seu parceiro de diálogo, e repudiaram a agenda relativa à próxima ronda de negociações, o que resultou no impasse actual. À luz destes factos, não podia ser mais evidente que os EUA não desejam a continuação das negociações a seis nem a desnuclearização da península coreana. Os EUA só desejam uma coisa, que é o crescimento das tensões na península coreana para se servirem disso como pretexto para aumentar a sua presença militar no Nordeste asiático. Esperam travar o crescimento da RPDC e dos seus vizinhos no quadro da sua estratégia para alcançar a supremacia mundial. Estas são as verdadeiras intenções dos EUA. É absurdo que a RPDC, sob pressão de sanções americanas sem razão de ser, participe nas negociações. Para nós esta é uma questão de princípio e nesta matéria não faremos concessões. De referir que nesta peça o PCP não defende qualquer posição, apenas disponibilizou a informação da Coreia do Norte face a um acontecimento.

Não vejo qualquer atentado aos ideais comunistas nestes documentos como insinuaste Vitor.

Vejo no entanto o transformar a Coreia numa ameaça fantasma, enquanto a verdadeira ameaça se passeia pela aldeia global numa operação de charme que pode custar muito caro a todas as nações. Uma ameaça real aos direitos, liberdades e garantias de cada país soberano, de cada indivíduo. Relembro aqui o post acerca das atrocidades que foram “legalizadas” pelos EUA em nome da protecção dos cidadãos americanos e que promovem práticas de terror físico e psicológico, essas praticadas entre nós quando vivíamos uma ditadura política, quando não havia liberdade de expressão. Mas, “God save America”! – engraçado como assim também parece fundamentalismo religioso...

Incomoda-me pensar que talvez possas achar que Portugal também não poderia fazer testes nucleares se quisesse, ou possuir centrais – somos um país soberano como todos os outros. Claro, não somos uns hipócritas, moralistas imorais como os americanos que foram dos primeiros a realizar testes, mas que querem todo o desenvolvimento e poderio tecnológico em sua posse, e que por isso se acham no direito de proibir os outros de possuir os mesmos meios para se defenderem caso necessitem. Já estou a ver o que se segue: “Ataque dos Clones”.

Sei que este post é enorme, mas não posso fazer como uns e outros, ainda por cima profissionais de jornalismo (pelo menos com a carteira profissional mas não com a ética e dentologia necessárias ao bom desempenho da profissão), que mandam umas “berlaitadas” (em bom português) e já está. Os assuntos sérios devem ser tratados com o peso que possuem pois podem e têm o poder de transformar o mundo em que vivemos. O facilitismo e simplismo políticos são próprios de quem não quer conhecer as reais motivações, nem se preocupa com as reais consequências.

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