terça-feira, junho 13, 2006

prostituição: legalizar, eis a questão!

Como mulher que sou, não concordo com a exploração das mulheres, nem dos homens - logo, como ser humano não suporto que me suprimam os meus direitos. De qualquer das formas tenho a necessidade de frisar, que nem as mulheres nem os homens deviam "vender-se". Não é apenas uma questão feminina, e é necessário que as pessoas tenham consciência deste facto. E, aqui, desde já, jaz uma diferença, o ser explorado e o ser "vendido".
Confesso a minha perplexidade perante a hipocrisia que é continuar a ignorar a prostituição (masculina, feminina, de crianças/adolescentes e adultos), o strip, como factos reais, coisas palpáveis que existem e que todos podemos observar com uma simples volta de carro por Lisboa: Restelo, Conde Redondo, Parque Eduardo Sétimo, Cais do Sodré, Olaias, entre outros. Basta, para os mais incrédulos, passar por estes locais a partir das 22h00m para verem como afinal não é coisa retirada de algum livro de Júlio Verne!
Mas se não são de ficção, de maravilha e espectáculo também não têm nada. Não é agradável vermos um ser humano como nós a degradar-se desta forma. Perguntamo-nos o que os/as leva estar naqueles locais? O que os/as leva ter escolhido aquele caminho e não outro? Como é possível não sofrerem? Relativamente aos adolescentes que se prostituem no Parque Eduardo Sétimo, se não têm família, quem cuide deles, os acarinhe e conforte, porque é que estão ali ao invés de estarem com as outras crianças/adolescentes de 13, 14, 15 até aos 19 anos de idade?
A prostituição não deve ser legalizada pelos impostos. Deve ser legalizada porque essas pessoas necessitam de acompanhamento, porque efectivamente ninguém se prostitui porque quer. Ninguém sofre uma exposição, ninguém se degrada pelas ruas da vida, porque sim.
É doloroso pensar-se que talvez algumas/alguns não tenham tido outra hipótese - mesmo que por não terem capacidade psicólogica de lidar com os seus problemas. Mas, para ajudarmos alguém, temos que assumir que esse problema existe, é real, e não virar a cara para o lado. Não fazer o que hoje se pratica, que é o indivíduo não se pode prostituir, contudo existem carrinhas do programa de minimização de riscos pertencentes ao Estado (uma delas onde fiquei a conhecer esta realidade) que lhes distribuem os preservativos (apesar de "não existir prostituição"), por uma questão de saúde pública. É paradoxal. Arriscava-me aqui a dizer, que talvez elas não existam mesmo, a malta que lá estagia é que alucinou!
Liberalizar sim, porque é a crescente hipocrisia que continua a alimentar e que permite a degradação do ser humano e da sociedade. Sociedade que apenas se preocupa com a sua segurança e não com a do indivíduo em particular, porque as prostitutas/os como os presos, desde que longe dos seus olhos e desde que controlados os riscos, são tolerados porque identificados e supostamente controlados - não se cruzam na cabeça dos mais puritanos, com os demais, como se não tivessem também "eles" direito à vida. Esquecem-se que os presos serão libertados, e que as prostitutas/os na maior parte das vezes não têm condições de subsistência, quanto mais de cuidados de saúde, e portanto que o risco existe - as doenças sexualmente transmissíveis (dst's) são uma realidade.
E as DST'S atingem quem tem relações promíscuas, descuidadas - muito presentes nesta população se não houver meios para a ajudar - que acabam por atingir as famílias dos que frequentam estes locais. Por isso podemos distribuir as "camisas", para que uns possam dormir mais descansados á noite - ora isto não chega!
Conseguem imaginar uma mulher a prostituir-se com os filhos a brincarem no local, onde ela se está a "vender"?! É uma realidade, não é ficção.
Agora, é importante não esquecer que é uma escolha, que é necessário que não sejamos moralistas preconceituosos. Temos que saber respeitar estas pessoas, mesmo que pensemos que elas não se respeitam a elas próprias - porque a ambivalência de sentimentos é presente. Conseguem imaginar alguém a ter relações com um sujeito com quem não há nada de atracção física ou psicológica?! E depois repetir isso no mesmo dia, n vezes?! Custa-me a acreditar que o façam por prazer.
Tem que haver liberdade destes homens e mulheres, chegarem a um sítio e que peçam ajuda, ou então que não peçam - mas que o façam sem terem medo de serem julgados e ostracizados. Que realmente possam escolher, e que a sua escolha seja respeitada. Que possam praticar o acto, mas sem com isso estarem a automutilar-se, porque se há coisas que não se dizem, elas saem cá para fora na mesma, de outra forma. É como o esferovite na água, quando o empurramos para baixo, ele volta sempre à tona, e se o tentamos condicionar de um dos lados, ele flui para o outro. Se nos causa muita angústia a escolha do outro, percebamos que é isso mesmo, uma escolha. Que o outro não é nós, e por isso deve ter capacidade de decidir o que quer para ele.
Para finalizar, explorados somos todos quando alguém não cumpre com os nossos direitos e essa não é a nossa escolha, "vendidos" e "usados" somos todos quando nos dispomos a ser comprados e escolhemos esse caminho - esta é a diferença, o preço da liberdade.
Por isto,
LIBERALIZAÇÃO JÁ

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