sexta-feira, julho 28, 2006

Media, Ideologia e Controlo Social

«Todas as sociedades têm tensões, latentes ou explícitas, que levam a necessidades ou usos de comunicação (entreter, educar, informar) tornando possível o seu desenvolvimento.

Hodiernamente vivemos numa sociedade em que a informação é essencial enquanto veículo de conhecimento. Precisamos de informação para formar o nosso pensamento crítico, tomar decisões, estar actualizados face ao mundo que nos rodeia, poder trocar impressões e opiniões. No fundo, precisamos de informação para agirmos em e na sociedade. As novas tecnologias trouxeram modificações ao sector dos media, tornando-se eles próprios uma causa da crescente tendência da “aldeia global”, devido à rápida transmissão dos factos sem fronteiras para qualquer parte do globo. Assim se percebe o nascimento de grandes grupos de capitais devido ao agrupamento de diversos media sob a mesma alçada. Os media de massas actuam em grande escala, envolvem toda a sociedade em maior ou menor grau, dependem dela, apesar de poderem influenciá-la de modo independente. São eles os jornais, a televisão, as revistas, os filmes, a rádio, entre outros. O seu poder tem vindo a crescer à medida que se diversificam e consolidam no mercado, não fossem eles palco de questões como os valores e o conflito político e social, geradores e difusores de ideias acerca dos factos e contextos do quotidiano, tanto na esfera privada como pública. Contrariamente ao que seria de esperar, o crescimento da comunicação e respectiva informação não se têm verificado numa relação exponencial, relativamente à solidariedade entre as sociedades e os seus indivíduos. As novas tecnologias existem mas não estão ao alcance de todos, resultado das assimetrias económicas existentes na nossa como em outras sociedades capitalistas. Com o capital informação, passa-se o mesmo. Uns produzem notícias tendo em conta os seus valores e interesses, os outros consomem-nas (Correia, 2000).
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Actualmente, os jornais mais lidos no Ocidente são os “comerciais”, facto devido ao processo de «tabloidização» derivado do formato mais reduzido dos jornais de rua de alguns países (Connell, 1998). Dependem em grande parte da publicidade e são feitos para obter lucros através de capitais monopolistas. Os objectivos comerciais e os alicerces dos jornais de massas exerceram influência considerável nos conteúdos, direccionados tanto para um populismo político como para suporte de negócios, consumos e empreendimentos de mercado (Curran, 1986; Curran & Seaton, 1997). A imprensa pode, assim, produzir as notícias tendo em vista um determinado público-alvo, ou o atingir de determinados objectivos, além de definir o significado dos acontecimentos provendo ao mesmo tempo interpretações para a sua compreensão. Por outras palavras, a imprensa pode recorrer a efeitos de selecção e distorção de modo a tornar-se consonante com a imagem pretendida pelos leitores (Galtung & Ruge, 1993). O senso comum determina se uma dada informação pode ou não ser aceite como facto (Tuchman, 1993), até porque “todo o conhecimento dado por adquirido tem uma estrutura altamente socializada, quer dizer, que é suposta ser dada por adquirida, não só por mim, mas por nós, por toda a gente” (Schutz, 1963, in Tuchman, 1993, p.88). Aliás, a imprensa é veículo da transmissão da linguagem, ela mesma portadora de representações, incidindo sobre aspectos estruturais e formais do pensar social, portanto ela compromete os processos de interacção social, causando influência, consenso ou dissenso e polémica (Jodelet, 1991).
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As fontes utilizadas devem ser seguras e credíveis, o que leva a uma dependência de “assuntos noticiosos específicos fornecidos por fontes institucionais e credíveis” (Critcher et al., 1993, p.228). As fontes fornecem informações para uso imediato, o que quer dizer que uma parte do trabalho já está concretizada. As fontes oficiais (intérpretes primários e definidores primários) são as mais importantes uma vez que possuem o monopólio das categorias de informação necessárias à compreensão de determinado assunto. Sem estas, o assunto não pode ser inteiramente discernido, uma vez que falta a informação chave. Contemplamos aqui a “hierarquia de credibilidade” de Becker (1972, in Critcher et al., 1993) segundo a qual é mais provável a aceitação das definições dos sujeitos considerados distintos, ou que ocupam lugares de poder na sociedade, em contraposição à generalidade da população. A fonte deve mostrar “articulação” (Gans, 1982) bem como a habilidade de apresentar uma exposição clara e concisa. Daí que “as notícias sejam em primeiro lugar uma conversa pública entre jornalistas e os membros do governo” (Ericson et. al, 1991, p.349).
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Desta apropriação, acontece que o produto inicial não corresponde ao final, aquele a que os leitores têm acesso. Logo, nem todas as partes da informação disponibilizada pelo definidor primário são reproduzidas pelos media, havendo, por isso, uma apropriação e transformação efectuada pelos media, impondo os seus próprios critérios.
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Muitas das análises críticas referentes às notícias dos media têm tido como base o conceito de hegemonia como um conceito central (Carragee, 1993). De acordo com Carragee (1993, p.333) dentro destes estudos dos media, hegemonia refere-se “aos processos pelos quais as classes governantes e os grupos moldam o consenso popular através da produção e difusão de significados e valores pelas Instituições ideológicas da sociedade”.
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O que fica por saber é o efeito da mensagem transmitida na opinião pública. Como diz Champagne (1990, p.47) “a opinião púbica é uma ideologia profissional que representa apenas aqueles a que a ela se referem. É a expressão da opinião na política por pequenos grupos sociais cuja profissão é produzir opiniões.”
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De acordo com Gramsci (1971), a hegemonia ideológica significa que as definições da realidade, que são favoráveis às classes dominantes, também constituem a primeira realidade vivida pelas classes subordinadas. Gramsci acredita que é a hegemonia ideológica que faz com que as classes subordinadas se rendam à ideologia dominante da classe governante, independentemente de a ideologia dominante não reflectir realmente a realidade social das classes subordinadas. Como podem as classes dominantes imprimir no espírito das classes subordinadas a ideologia dominante para atingir a hegemonia ideológica? Por outras palavras, como podem as classes subordinadas acreditar numa ideologia dominante que pode não corresponder ás suas reais realidades sociais?» (Mealha, 2006)

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