terça-feira, maio 16, 2006

São Paulo, a violência e os media...

Acho impressionante como os jornais ligam mais à questão da luta política - motivo das eleições em Outubro, que propriamente ao problema da criminalidade.
O Brasil, é um dos países que mais denota a diferença entre ricos e pobres. Não obstante o facto de ser um país de grandes dimensões que justifica o facto de a pobreza, a riqueza, a exclusão social existirem a quadriplicar ou mais que no nosso país, a realidade é que muito pouco tem sido feito para que se altere a mentalidade do povo brasileiro e não só!
Há poucos dias, num comentário na RTP2 sobre as favelas e criminalidade no Brasil, via-se e ouvia-se o modo que os mais abastados arranjaram para lidar com as favelas, e o seu sentimento de insegurança. Aí, os condóminos dos condomínios fechados mostraram como se organizavam para arranjar dinheiro de modo a poderem fomentar a implementação de novas esquadras e contratar mais polícias. Atitude que reflecte a falta de preparação destes sujeitos e da sociedade civil no geral para lidar com a violência.
Pergunto-me, não seria melhor usar esse dinheiro para implementar escolas, condições de saúde, condições de habitação, etc?! Não será esse o meio para implementar uma nova mentalidade, uma abordagem mais preventiva?!
O grande mal da sociedade civil, é que quando se sente ameaçada, torna ao aumento de medidas de segurança que mais não fazem que legitimar a falta de insegurança, e alarmar ainda mais a própria sociedade. Assim, ela tem sempre necessidade de criar mecanismos sob o pretexto da protecção dos cidadãos, da sociedade. E com isto, chega-se ao facto de não sermos todos cidadãos iguais, dado que para a maioria da sociedade, os presos não são cidadãos iguais - para Platão na "República", também a cidadania não era para todos.
A perigosidade leva então, a que se descure o mais importante - arranjar condições que previnam a criminalidade. Impressionante, é como apesar de existirem inúmeros estudos na àrea da criminologia e até escolas como a de Chicago, que já provaram inúmeras vezes que a criminalidade tem raiz social, e sabemos também da psicologia que os indivíduos se formam por identificação aos pares, o que me leva a perguntar - porque raio não actuam na "raiz social"?!
Custa assim tanto perceber, que quem nasce no seio da criminalidade pense que a única maneira de sobreviver é pela criminalidade? Que numa favela com a de São Paulo, com 3 milhões de pessoas, as que conseguem sobreviver são aquelas que cometem crimes?! Que quem não tem dinheiro para comer, tem que roubar para o fazer, porque não há emprego, nem uma rede social de apoio?!
Quanto às prisões, gostaria apenas de lembrar que elas são locais de exclusão, que não previnem a reincidência, e que tampouco promovem a reabilitação das pessoas. Foucault já o dizia em 1987 no seu livro "Vigiar e Punir", nada de novo portanto. As prisões apenas servem para tranquilizar a sociedade pelo seu carácter normativo, onde se colocam fora de vista quem cometeu este ou aquele delito. O mesmo se passa com os loucos que vão para o manicómio. São instituições de exclusão, que existem para incluir o excluído nesta nossa sociedade. Mas, o delinquente não ficará preso para sempre na prisão (pelo menos em Portugal), longe da vista de todos, e retornará um dia ao exterior - a maior parte dos mortais ignora esta realidade.
"Que o enxerto da prisão o sistema penal não tenha acarretado reacção violenta de rejeição se deve sem dúvida a muitas razões. Uma delas é que, ao fabricar delinquência, ela deu à justiça criminal um campo unitário de objetos, autentificado por «ciências» e que assim lhe permitiu funcionar num horizonte geral de «verdade»" Foucault (1987, p.214).
O problema continua pois parece que ninguém o conseguiu compreender e meter em prática.

Sem comentários: